Se
eu fosse um poema,
deixar-me-ia
sucumbir à liberdade dos versos
ou
à tentadora armadilha das rimas.
Enxertos
de prosa seriam bem vindos
sintaxes
distorcidas, talvez.
Seria
assindético ou polissindético
e
nadaria de braçada no caos das conjunções.
Se
eu fosse um poema,
seria
uma medusa a ostentar
versos
e serpentes
e
petrificaria
os
leitores mais desavisados.
Se
eu fosse um poema,
gostaria
de caber na ponta de um alfinete
ao
mesmo tempo em que, sentado na lua,
eu
pudesse balançar os pés no universo.
Se
eu fosse um poema,
seria
concreto
sonoro
pulsante.
Seria
calmo,
seria
inquieto,
como
um paradoxo no espelho.
Se
eu fosse um poema,
seria
uma ode de Píndaro,
um
soneto de Petrarca
ou
um haicai de Bashô.
Seria
todo o consolo metalinguístico
infinito,
silencioso,
que
abre fissuras nas horas.
Simulacro
de sentido.
Se
eu fosse um poema,
seria
desembaraço,
seria
coloquial.
Seria
pintado,
mimeografado,
fotocopiado
articulado
e reticente.
Se
eu fosse um poema,
abusaria
das anáforas
verteria
aliteração.
Seria
cratílico,
idílico,
itálico,
etílico,
hiperbólico.
Se
eu fosse um poema,
não
me importaria em ser jogado ao muro
estampado
em faixas de tecido ralo,
tapumes
disformes
ou
impresso na terceira margem do tempo.
Se
eu fosse um poema,
esfregar-me-ia
nas folhas em branco
até
que o sêmen do lirismo penetrasse
o
invólucro do vazio.
Se
eu fosse um poema,
sobreviveria
aos que ignoram poesia.
5 comentários:
lindo, jacq! parabéns, gostei muito!
Obrigada, amiga! Vc é 10!
Você não é um poema, Jacqueline... é muitos! ;)
Obrigada, Gustavo, meu amigo lindo! Beijo grande,
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